Eu tive uma professora chamada Dona Íris que era uma figura mítica. Uma negra mais velha e extremamente sarcástica, Dona Íris era professora de Geografia e adepta de uma pedagogia, digamos, pouco ortodoxa para o Colégio São Francisco naqueles primórdios dos anos 80.
Havia na sala um amigo nosso, filho de pessoas bastante importante na cidade que, além de ser um capeta, tinha um tique nervoso altíssimo que incomodava todos os professores. Não sei se por medo do sobrenome do rapaz ou por respeito ao problema do tique, ninguém abordava a questão.
Pois já na primeira aula, depois do terceiro ou quarto ruído gutural, a mestra perguntou:
“Que barulho é esse que você fica fazendo, menino?”
“É tique, fessora.”
“Ah, é? Então vem aqui pra frente e lê esse capítulo aqui em voz alta pra nós.”
A partir daí, quem lia os temas da aula era o garoto, enquanto Dona Íris comentava e explicava pra turma. Se percebia um novo tique chegando, mandava ler outro trecho e pronto, passava a vontade.
_____________________
Um outro amigo, sempre em apuros com as notas na matéria, um dia saiu da sala descuidado e bradando para os colegas “cadê a macaca?”, só para dar de cara com ela que, tocando amistosamente o ombro do infeliz, respondeu “a macaca tá aqui”. Não deu outra, tomou recuperação.
_____________________
Eu mesmo, em uma das primeiras aulas, tentei capitalizar sobre o fato de meu pai ter sido professor e contemporâneo dela para tentar ganhar simpatia.
“Dona Íris, eu sou filho do Nilo, professor de Física.”
“Ah, é? Olha, pro seu pai eu tiro o chapéu, viu?”
Enquanto eu me enchia de orgulho, ela emendava:
“Mas pra você eu enfio até o pescoço.”
Nestes tempos bicudos, fico imaginando, que fim terá levado Dona Íris?
Direto na têmpora: The same old scene – Bryan Ferry & The Roxy Music