BRANDS' CAPITAL VERDE Economia regenerativa traz prosperidade, mas implica transformações profundas no mundo, avisa John Fullerton

  • BRAND'S CAPITAL VERDE
  • 10 Julho 2024

John Fullerton, fundador do Capital Institute, defende que as empresas devem mudar a lógica de produção, consumo e geração de riqueza para proteger o ambiente e, em simultâneo, criar valor.

“O que estou a sugerir é que não estamos a viver uma era de transformação, mas antes uma transformação de era. Não sabemos como é que será chamada pelos historiadores, mas diria que será conhecida como era regenerativa”, apontou John Fullerton nos primeiros minutos da sua intervenção na Conferência BCSD Portugal 2024. O fundador do Capital Institute esteve na Cordoaria Nacional, em Lisboa, para falar sobre o conceito de economia regenerativa e sobre a forma como as empresas e os indivíduos precisam de repensar a produção e o consumo de recursos.

John Fullerton, fundador do Capital Institute
John Fullerton, fundador do Capital Institute © Fotografia: Filipa Lima Gomes

Mais do que continuar a explorar o que o planeta tem para oferecer, sem olhar ao custo ambiental e social em prol da geração de riqueza, Fullerton acredita que é possível colocar as grandes organizações ao serviço da sustentabilidade. “Esta mudança é muito desconfortável e radical e algo que não estará completo no meu período de vida”, reconhece o especialista.

Esta economia regenerativa que advoga – e sobre a qual teorizou em 2015 quando escreveu o artigo “Capitalismo Regenerativo” – implica “um novo olhar e a eliminação de obstáculos para alcançar todo o potencial” de transformação que traz. Fullerton acredita que “perdemos 25 anos com o movimento ESG sem fazer escolhas e decisões radicais”, assente numa ideia de “evolução incremental” que já não serve os propósitos da sociedade atual. “O incrementalismo funciona bem quando estamos a lidar com transição, mas não quando estamos a lidar com a necessidade de transformação. E sim, as empresas odeiam a incerteza, mas temos pena porque a ignorância e a negação não são certamente estratégias para o sucesso”, sublinha.

E como é que se coloca em prática esta ideia? John Fullerton defende ser urgente criar “um desenvolvimento regenerativo” que, aos olhos de hoje, seria visto como “atividade filantrópica”: a proteção e restauro dos ecossistemas naturais. “Mas restaurar a função do ecossistema em todos os ecossistemas degradados é uma prioridade absolutamente urgente. Encorajo as empresas a usar os seus ativos e a sua escala para participar nesse esforço mesmo que não gere grandes lucros”, apela.

Como prioridade, Fullerton aponta o investimento em agricultura regenerativa – uma aposta que está a ser feita por várias grandes multinacionais -, mas também na indústria química e, de forma mais genérica, no incentivo à economia circular. Mas para tudo isto é preciso, alerta, ter lideranças fortes e empresas com “saúde” que apliquem os oito princípios do autor sobre a economia regenerativa.

Colaboração é essencial

No debate que se seguiu à intervenção de John Fullerton, Uta Jungermann, do WBCSD, defendeu a importância da “colaboração entre todos os setores e geografias para conseguirmos enfrentar os desafios globais”. Trazer as grandes multinacionais para este debate é, considera, fundamental porque “têm essa capacidade” de influenciar as cadeias de valor. Aliás, Jungermann aponta a redução das emissões de tipo 3 (da cadeia de valor) como exemplo de algo que, “por definição, não podemos fazer sozinhos”.

Para Luís Rochartre, responsável de sustentabilidade da UNOBVIOUS Solutions, as empresas não devem focar-se apenas no cumprimento das suas obrigações de ESG e na identificação dos riscos para o negócio, mas também “identificar as oportunidades para ir mais além”. “Precisamos de começar uma conversa sobre estratégia, sobre para onde as empresas querem caminhar e que objetivos querem atingir. As empresas estão focadas no reporte e não no que podem fazer mais”, insiste.

John Fullerton reconhece que “as oportunidades são muitas no sentido tradicional do negócio”, mas não tem dúvidas de que o verdadeiro potencial “são as oportunidades que ainda não conseguimos antecipar” e que resultarão do processo de transformação em curso. “As oportunidades são o que vai sair do processo e não algo que podemos planear. Isso é uma forma radicalmente diferente de pensar”, afirma.

Assista aqui à intervenção completa de John Fullerton na Conferência BCSD Portugal 2024:

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