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    'Noite Estrelada' e outros Van Gogh capturaram a matem�tica c�smica

    MARCELO GLEISER
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    19/04/2015 02h30

    O anivers�rio do grande pintor holand�s Vincent van Gogh, nascido em 1853, aconteceu h� 20 dias. Excelente oportunidade, portanto, para revisitar estudos relacionando � turbul�ncia que vemos em alguns de seus quadros, entre eles "Noite Estrelada" (1889), no qual luz e nuvens fluem em espirais que parecem se mover na tela, com a turbul�ncia que ocorre na natureza, em particular em fluidos e certos gases.

    A conex�o tem uma hist�ria interessante, sendo inspirada por uma imagem de uma estrela tirada pelo telesc�pio espacial Hubble em 2004, em que vemos rodamoinhos causados por poeira e g�s em movimento turbulento.

    O f�sico Jos� Luis Arag�n, da Universidade Aut�noma do M�xico, e colaboradores na Espanha e na Inglaterra, buscaram por uma rela��o matem�tica entre a turbul�ncia dos fen�menos naturais e as cria��es de Van Gogh, que pintou "Noite Estrelada" e outros quadros durante per�odos de prolongados dist�rbios mentais.

    Divulga��o e Nasa e Hubble Heritage Team/Divulga��o
    À esq., 'Noite Estrelada', de Van Gogh; acima, imagem feita pelo telescópio Hubble em 2004 mostra redemoinhos de poeira e gás
    � esq., 'Noite Estrelada', de Van Gogh; acima, imagem feita pelo telesc�pio Hubble em 2004 mostra redemoinhos de poeira e g�s

    O f�sicos descobriram que a mesma rela��o matem�tica descreve a turbul�ncia vista na arte de Van Gogh e na natureza. Para tal, exploraram uma propriedade conhecida como lumin�ncia (do ingl�s "luminance"), que mede a intensidade do brilho em pontos diferentes de uma superf�cie, como a tela de um quadro.

    O olho � mais sens�vel � lumin�ncia do que a diferen�as entre cores, o que explica o efeito que vemos em muitas telas dos impressionistas, em que as cores parecem brilhar com uma intensidade quase que m�gica.

    Usando imagens digitalizadas dos quadros, os f�sicos calcularam a probabilidade relativa de que dois pontos (pixels) na tela, separados por uma dist�ncia R, tivessem a mesma lumin�ncia.

    Com isso, mostraram que Van Gogh (intuitivamente?) construiu imagens que obedecem a uma lei de escalas em que o mesmo padr�o de brilho � repetido em dist�ncias diferentes.

    Essa lei de escalas ocorre tamb�m na turbul�ncia dos fluidos, nos quais rodamoinhos maiores doam energia para rodamoinhos menores, de modo que o mesmo padr�o (os rodamoinhos) reaparece em escalas diversas, criando o fen�meno da turbul�ncia.

    Durante seus per�odos de maior sofrimento, Van Gogh capturou a ess�ncia da turbul�ncia na natureza. Sua obra ilustra um arqu�tipo universal, em que o luminoso transcende a tela e o pincel do artista vira express�o do poder criador do cosmo.

    MARCELO GLEISER, 55, � professor titular de f�sica, astronomia e filosofia natural no Dartmouth College, nos EUA. Seu livro mais recente � "A Ilha do Conhecimento" (Record)

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