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Restinga

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Para outros significados, veja Restinga (desambiguação).
Restinga na praia da Jureia, em Iguape, SP.
Restinga, com fisionomias herbácea e florestal, no Parque Estadual Paulo Cesar Vinha, em Guarapari, ES.
Habitat de restinga na praia de Itaguaré, Bertioga, SP.
Habitat de restinga em Ilha de Margarita, Venezuela.

Restinga é um tipo de ecossistema. De acordo Cerqueira et al (2000) existe uma confusão no uso de termos para os ambientes costeiros, devido a falta de padronização para os ambientes costeiros. Parte da imprecisão se deve ao fato do termo ser usado para fazer referência ao tipo de substrato onde normalmente se desenvolve. Os cordões arenosos, praias e outros depósitos sedimentares na região costeira são elementos da geodiversidade onde a Restinga se desenvolve.

A palavra “Restinga” designa vegetação estabelecida em substratos arenosos do Quaternário sujeitos às influências marinhas ou flúvio-marinhas (Flexor et al. 1984; Sugiyama 1998).

Segundo o glossário dos termos genéricos dos nomes geográficos do IBGE (2018),[1] restinga é uma feição linear subparalela à linha de praia, formada pelo acúmulo de sedimentos decorrente da ação de processos marinhos. É um tipo de barreira costeira que se restringe apenas ao cordão litorâneo que fecha parcialmente as embocaduras de rios, as angras, baías ou pequenas lagunas. Ocorre nas planícies litorâneas de contorno irregular, nas proximidades de desembocaduras de rios e falésias que possam fornecer sedimentos arenosos. Termo utilizado também para denominação de curso de água.

Ainda de acordo com o Manual Técnico da Vegetação Brasileira do IBGE (2012)[2] a restinga possui as seguintes formações: Formação Pioneira com influência marinha; Formação Pioneira com influência marinha arbórea; Formação Pioneira com influência marinha arbustiva e Formação Pioneira com influência marinha herbácea.

Segundo Samuel et al (2024), as formações de restinga são definidas como a vegetação que cobre sedimentos costeiros arenosos depositados durante o período Quaternário, independentemente de sua fisionomia. Elas são geralmente caracterizadas como áreas de confluência entre espécies vegetais associadas a diversos domínios fitogeográficos. No entanto, estudos florísticos e biogeográficos detalhados ainda são necessários para definir melhor seus padrões de distribuição, as origens de suas espécies vegetais e suas afinidades biogeográficas. Embora compartilhem espécies com outros ecossistemas, as restingas exibem uma composição florística única, representando uma flora costeira. Além disso, as restingas do Norte e Nordeste do Brasil são subdivididas biogeograficamente de acordo com setores previamente reconhecidos da costa do país. A variação na composição florística dentro do grupo de restingas está associada a fatores como distância geográfica, variáveis geomorfológicas e climáticas

Podem apresentar vários tipos de fisionomias: herbáceas, arbustivas e arbóreas.[3]

No Brasil, alguns autores, como Löfgren (1898), usam o termo "restinga" apenas para o tipo de terreno, chamando sua vegetação de "nhundú" ou "jundú".[4][5] Para outros, a restinga pode ser definida como um terreno arenoso e salino, próximo ao mar e coberto de plantas herbáceas características. Ou ainda, de acordo com a Resolução 07, de 23 de julho de 1996, do CONAMA, "entende-se por vegetação de restinga o conjunto das comunidades vegetais, fisionomicamente distintas, sob influência marinha e fluvio-marinha. Estas comunidades, distribuídas em mosaico, ocorrem em áreas de grande diversidade ecológica sendo consideradas comunidades edáficas por dependerem mais da natureza do solo que do clima"."

As restingas se distribuem geograficamente ao longo do litoral brasileiro, desde o Amapá até o Rio Grande do Sul, em pontos específicos na extensão de mais de 5000 km, não ocorrendo de forma contínua. As principais formações ocorrem no litoral de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Alagoas, Sergipe e Bahia. Um exemplo é a Restinga da Marambaia, no litoral do Rio de Janeiro. Há também no norte do Brasil indo até o interior do Rio Amazonas. No litoral amazônico, por exemplo, as Restingas correspondem a ambientes que se constituem de um complexo de comunidades de plantas ocorrendo sobre planícies arenosas costeiras quaternárias, apenas de influência marinha e com pequenas elevações e diferentes fitofisionomias, e estão concentradas no nordeste do Pará (Bastos 1996; IBGE 2004; Silva et al. 2010). Na Amazônia, as restingas ocupam uma área estimada em 1.000 km2 (Pires, 1973).[6]

Correspondência entre os esquemas de diversos autores para as fisionomias da restinga:[7][8][9][10][3]

Ule (1901) Rizzini (1979) Araújo e Henriques (1984) Pereira (2003)
halófila,
psamofitas reptantes,
praial graminóide
herbácea aberta de praia
herbácea fechada inundável
brejo das ciperáceas brejo herbáceo herbácea inundada
pós-praia herbácea fechada de cordão arenoso
thicket baixo de pós-praia Palmae arbustiva fechada não inundável
Myrtenrestinga thicket de Myrtaceae arbustiva fechada não inundável
Sumpfrestinga arbustiva fechada inundável
Clusiarestinga,
Heiderestinga
scrub de Clusia
e scrub de Ericaceae
aberta de Clusia
e aberta de Ericaceae não inundável
arbustiva aberta não inundável
Clusiarestinga,
Heiderestinga
scrub de Clusia
e scrub de Ericaceae
aberta de Clusia
e aberta de Ericaceae inundável
arbustiva aberta inundável
floresta arenosa litorânea (mata seca) florestal não inundável
mata de Myrtaceae florestal inundável
florestal inundada
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Restinga de Jurubatiba

Para conter a degradação destas áreas geográficas, que são as restingas, garantindo, especialmente, que estas possam continuar exercendo sua importante função ambiental de fixadoras de dunas e estabilizadoras de manguezais, o Código Florestal brasileiro (Lei 12.651, de 25 de maio de 2012) enquadra as áreas das restingas como Áreas de Preservação Permanente - APP, que não podem ser devastadas e ocupadas, conforme inciso VI do art.4º e 7º da Lei. A Resolução Conama 303, de 20 de março de 2002, que dispõe sobre parâmetros, definições e limites de APP, estabelece que constitui APP a área situada nas restingas: em faixa mínima de 300 m, medidos a partir da linha de preamar máxima; ou em qualquer localização ou extensão, quando recoberta por vegetação com função fixadora de dunas ou estabilizadora de mangues.[11]

São exemplos de restingas os cordões de areia que formam a Ria de Aveiro ou a Ria Formosa, assim como diversas lambdas arenosas na foz de alguns rios, como é o caso do Cabedelo na foz do Rio Douro.[12]

Em Portugal, restinga também significa escolho, recife,[13] como no topónimo Ponta da Restinga nos Açores.

Referências

  1. «IBGE | Biblioteca». IBGE | Biblioteca. Consultado em 30 de agosto de 2024 
  2. «IBGE | Biblioteca». IBGE | Biblioteca. Consultado em 30 de agosto de 2024 
  3. a b Thomazi, R. D., Rocha, R. T., Oliveira, M. V., Bruno, A. S., & Silva, A. G. (2013). Um panorama da vegetação das restingas do Espírito Santo no contexto do litoral brasileiro. Natureza on line, Santa Teresa/ES, 11 (1): 1-6, link.
  4. Löfgren, A. (1898). Ensaio para uma distribuição dos vegetaes nos diversos grupos florísticos no estado de São Paulo. Boletim da Comissão Geográfica e Geológica de São Paulo, n.11, p. 5-50, 2a ed., link. [1a ed., 1896, link.]
  5. WALTER, B. M. T. (2006). Fitofisionomias do bioma Cerrado: síntese terminológica e relações florísticas. Tese de Doutorado, Universidade de Brasília, [1].
  6. PIRES, J. M. (1973). «Tipos de vegetação da Amazônia». Publicação avulsa do Museu Paraense Emílio Goeldi 
  7. Ule, E. (1901). Die Vegetation von Cabo Frio am der Küste von Brasilien. In: Engler, A. (ed.). Botanische Jahrbücher für Systematik 28: 511-528, link.
  8. Rizzini, C.T. (1979). Tratado de fitogeografia do Brasil. São Paulo, HUCITEC/EDUSP. v. 2, pp. 521-572.
  9. Araújo, D.S.D., Henriques, R.P.B. (1984). Análise florística das restingas do estado do Rio de Janeiro. In: Lacerda, L.D., Araújo, D.S.D., Cerqueira, R., Turcq, B. (org.). Restingas: origem, estrutura, processos. Niterói, CEUFF. pp. 159-192.
  10. Pereira, O.J. (2003). Restinga: origem, estrutura e diversidade. In: Jardim, M.A.G., Bastos, N.N.C., Santos, J.U.M. (ed.). Desafios da Botânica Brasileira no Novo Milênio: Inventário, Sistematização e Conservação da Diversidade Vegetal. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi. pp 177-179.
  11. «IBAMA Restinga». Ibama.gov.br 
  12. «Aula 8: Estuários, deltas e lagunas». Universidade do Porto. Consultado em 5 de novembro de 2012 
  13. «Restinga». Infopédia. Consultado em 5 de novembro de 2012 
  • Lacerda, L.D. et al. (orgs.). 1984. Restingas: origem, estrutura, processos. Niterói: CEUFF.
  • Rawitscher, F.K. 1944. Algumas noções sobre a vegetação do litoral brasileiro. Boletim da Associação dos geógrafos brasileiros ano 4, n. 5, p. 13-28, [2], link.
  • Silva, S. M. 1999. Diagnóstico das Restingas no Brasil. In: Fundação BIO RIO, Workshop Avaliação e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade na Zona Costeira e Marinha. Porto Seguro, Anais Eletrônicos. link.
  • RABELO ST, FERNANDES MF & MORO MF. 2024. Biogeography of restinga vegetation in Northern and Northeastern Brazil and their floristic relationships with adjacent ecosystems. An Acad Bras Cienc 96: e20230925. DOI 10.1590/0001-3765202420230925.
  • Flexor, J.M.; Martin, L.; Suguio, K. & Dominguez, J.M.L. 1984. Gênese dos cordões litorâneos da parte central da costa brasileira. In: Lacerda, L.D.; Araújo, D.S.D.; Cerqueira R. & Turcq, B. (orgs.). Restingas: origem, estruturas, processos. CEUFF, Niterói. Pp. 35-46.
  • Cerqueira, R. 2000. Biogeografia das restingas. In: Esteves, F.A.; Lacerda, L.D. (eds.) Ecologia de restingas e lagoas costeiras. NUPEM/UFRJ, Macaé. Pp. 65-76.
  • PIRES, J. M., 1973. Tipos de vegetação da Amazônia. Publicação avulsa do Museu Paraense Emílio Goeldi 20: 179-202. (O Museu Goeldi no ano do Sesquicentenário).

Ligações externas

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