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Conferência de Potsdam

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Attlee, Truman e Stalin em Potsdam

A Conferência de Potsdam ocorreu em Potsdam, Alemanha (perto de Berlim), entre 17 de julho e 2 de agosto de 1945. Os participantes foram os vitoriosos aliados da Segunda Guerra Mundial, que se juntaram para decidir como administrar a Alemanha, que tinha se rendido incondicionalmente nove semanas antes, no dia 8 de maio, Dia da Vitória na Europa.[1] Os objetivos da conferência incluíram igualmente o estabelecimento da ordem pós-guerra, assuntos relacionados com tratados de paz e contornar os efeitos da guerra.

Preparação[editar | editar código-fonte]

Em maio de 1945, Churchill escreveu a Truman na esperança de organizar uma reunião dos três governos para ocorrer em junho. Truman esperava que Stalin propusesse a reunião para evitar a aparência de que os americanos e britânicos estavam se unindo aos soviéticos. Com alguns pedidos do assessor de Truman, Harry Hopkins, Stalin propôs uma reunião na área de Berlim. Informado disso pelos EUA, Churchill enviou uma carta concordando que ficaria feliz em se encontrar no "que resta de Berlim".[2][3]

Algumas fontes sugerem que Truman adiou a conferência para que ela se reunisse depois que os resultados do primeiro teste de bomba atômica fossem conhecidos. A conferência foi finalmente marcada para começar em 16 de julho em Cecilienhof, em Potsdam, perto de Berlim.[2][3]

Participantes[editar | editar código-fonte]

Chegou à conferência com um dia de atraso, justificando-se com "assuntos oficiais" que requereram a sua atenção, embora seja possível que, na realidade, Stalin tenha tido alguns problemas cardiovasculares.[4] Apesar disso, a iniciativa da aliança contra o nazismo foi dele.[5]
Os resultados das eleições britânicas foram conhecidos durante a conferência. Como resultado da vitória do Partido Trabalhista sobre o Partido Conservador, o cargo de primeiro-ministro mudou de mãos.
Stalin sugeriu que Truman fosse o único chefe de estado presente na conferência, sugestão que foi aceita por Churchill.

Primeiros resultados da conferência[editar | editar código-fonte]

Estes foram os pontos da conferência:[6]

  • Acordo sobre as indenizações de guerra. Os aliados estimaram as suas perdas em 200 bilhões (português brasileiro) ou 200 mil milhões (português europeu) de dólares. Após insistências das forças ocidentais (excluindo assim a União Soviética), a Alemanha foi obrigada apenas ao pagamento de 20 bilhões (português brasileiro) ou 20 mil milhões (português europeu), em propriedades, produtos industriais e força de trabalho. No entanto, a Guerra Fria impediu que o pagamento se processasse na totalidade;
  • Stálin propôs que a Polônia não tivesse direito a uma indenização direta, mas sim que tivesse direito a 15% da compensação da União Soviética (esta situação nunca aconteceu);
  • Todos os outros assuntos seriam tratados na conferência de paz final, que seria convocada assim que possível.
A Linha Oder-Neisse

Enquanto que a fronteira entre a Alemanha e a Polónia foi praticamente determinada e tornada irreversível através da transferência forçada de populações, facto acordado em Potsdam, o Ocidente queria que na conferência final de paz se confirmasse a linha Oder- Neisse como marco permanente.

Antigas e novas fronteiras da Polônia, 1945. O território previamente parte da Alemanha está identificado em rosa. A nova fronteira soviético-polonesa segue aproximadamente a Linha Curzon

Dado que a Segunda Guerra Mundial nunca foi terminada com uma conferência de paz formal, a fronteira germano-polaca foi confirmada com base em acordos mútuos: 1950 pela República Democrática Alemã, 1970 pela República Federal Alemã e em 1990 pela Alemanha já reunificada (Ver: Reunificação da Alemanha). Este estado de incerteza levou a uma grande influência da União Soviética sobre a Polónia e a Alemanha. A Arábia Saudita desde a conferência recebeu capitais norte-americanos depois da derrota de qualquer possibilidade imediata de se abrir o mercado petroleiro russo.[8][9]

Os aliados ocidentais, especialmente Churchill, mostraram-se desconfiados das jogadas de Stálin, o qual já tinha instalado governos comunistas em países da Europa Central sob sua influência; a conferência de Potsdam acabou por ser a última conferência entre os Aliados.

Durante a conferência, Truman mencionou a Stálin uma "nova arma potente" não especificando detalhes. Stálin, que ironicamente já sabia da existência desta arma muito antes que Truman soubesse da mesma, encorajou o uso de uma qualquer arma que proporcionasse o final da guerra. Perto do final da conferência foi apresentado um ultimato ao império do Japão, ameaçando uma "rápida e total destruição", sem mencionar a nova bomba.

Alemanha ocupada em 1947

Após a recusa do Japão, ocorreram os bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki, com o lançamento de bombas atômicas sobre Hiroshima (6 de agosto) e Nagasaki (9 de agosto). 15 de agosto de 1945 foi o dia V-J (dia da vitória sobre o Japão). Representantes japoneses assinaram a rendição oficial do país em 2 de setembro. Truman tomou a decisão de usar armamento atômico para acabar com a guerra enquanto esteve na conferência. Ainda que, hodiernamente, a historiografia recente admita que as bombas foram utilizadas com o intuito de apenas abreviar a guerra para que a URSS não avançasse mais na frente oriental.

Áustria ocupada no período 1945-1955

Territórios ocupados[editar | editar código-fonte]

Em janeiro de 1946, o Conselho de Controlo Aliado dividiu a Alemanha em 4 zonas de ocupação controladas por Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido, e França. Estes países ocuparam a Alemanha de 1945 até 1948.

O território austríaco foi igualmente dividido e ocupado, ficando sob controle aliado até 1955.[10]

Consequências[editar | editar código-fonte]

Truman havia mencionado uma "nova arma poderosa" não especificada a Stalin durante a conferência. No final da conferência, em 26 de julho, a Declaração de Potsdam deu ao Japão um ultimato para se render incondicionalmente ou enfrentar a "destruição imediata e total", que não mencionou a nova bomba mas prometeu que "não tinha a intenção de escravizar o Japão". A União Soviética não estava envolvida nessa declaração, uma vez que ainda era neutra na guerra contra o Japão. O primeiro-ministro japonês Kantarō Suzuki não respondeu, o que foi interpretado como um sinal de que os japoneses haviam ignorado o ultimato. Como resultado, os Estados Unidos lançaram bombas atômicas sobre Hiroshima em 6 de agosto e sobre Nagasaki em 9 de agosto de 1945. As justificativas usadas foram que ambas as cidades eram alvos militares legítimos e que era necessário acabar com a guerra rapidamente e preservar vidas americanas.[11][12][13]

Quando Truman informou Stalin sobre a bomba atômica, ele disse que os Estados Unidos "tinham uma nova arma de força destrutiva incomum", mas Stalin tinha pleno conhecimento do desenvolvimento da bomba atômica a partir de redes de espionagem soviéticas dentro do Projeto Manhattan e disse a Truman na conferência que esperava que Truman "fizesse bom uso dela contra os japoneses".[14][15][16]

A União Soviética converteu vários países da Europa Oriental em Estados satélites dentro do Bloco de Leste, como a República Popular da Polônia, a República Popular da Bulgária, a República Popular da Hungria, a República Socialista da Checoslováquia, a República Popular da Romênia, e a República Popular da Albânia. Muitos desses países tinham visto revoluções socialistas fracassadas antes da Segunda Guerra Mundial.[17][18]

Sobre o estabelecimento da linha Oder-Neisse, o presidente Truman informou que Stalin havia apresentado a ocupação da Polônia Oriental pela União Soviética e a anexação polonesa da Silésia e da Pomerânia Oriental como um fato consumado. Apanhados de surpresa, os Aliados ocidentais foram forçados a abandonar os princípios da Carta do Atlântico.[19]

Precedentes da Conferência de Potsdam[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Former friends about USSR's contribution to victory in WWII
  2. a b McDonough, Jim (13 de maio de 2021). «The Potsdam Conference 1945: A Day-By-Day Account». Berlin Experiences (em inglês). Consultado em 1 de janeiro de 2023 
  3. a b «Correspondence between the Chairman of the Council of Ministers of the USSR and the Presidents of the USA and the Prime Ministers of Great Britain during the Great Patriotic War of 1941 - 1945». www.marxists.org. Consultado em 2 de janeiro de 2023 
  4. John Martin Carroll, George C. Herring. Modern American Diplomacy (1986) p. 131
  5. Holdsworth, Nick (18 de outubro de 2008). «Stalin 'planned to send a million troops to stop Hitler if Britain and France agreed pact'» (em inglês). ISSN 0307-1235 
  6. Michael Neiberg, Potsdam: The End of World War II and the Remaking of Europe, Basic Books, 2015
  7. Henry Heller, The Cold War and the New Imperialism: A Global History, 1945-2005, Monthly Review Press, New York, 2006.
  8. F. William Engdahl, Gods of Money,2009, edition.engdahl, Wiesbaden, pp. 190-193.
  9. You Can’t Understand ISIS If You Don’t Know the History of Wahhabism in Saudi Arabia
  10. (em português) Mondopost - Brasil foi chamado a ocupar a Áustria. Acessado em 25 de Novembro de 2010.
  11. «How The Potsdam Conference Shaped The Future Of Post-War Europe». Imperial War Museums (em inglês). Consultado em 12 de fevereiro de 2018 
  12. «Mokusatsu: One Word, Two Lessons» (PDF). Consultado em 20 de março de 2013. Cópia arquivada (PDF) em 6 de junho de 2013 
  13. "Mokusatsu, Japan's Response to the Potsdam Declaration", Kazuo Kawai, Pacific Historical Review, Vol. 19, No. 4 (November 1950), pp. 409–414.
  14. «Soviet Atomic Program - 1946». Atomic Heritage Foundation. 5 de junho de 2014. Consultado em 24 de julho de 2020 
  15. Groves, Leslie (1962). Now it Can be Told: The Story of the Manhattan Project. New York: Harper & Row. pp. 142–145. ISBN 0-3067-0738-1. OCLC 537684 
  16. Putz, Catherine (18 de maio de 2016). «What If the United States Had Told the Soviet Union About the Bomb?». The Diplomat. Consultado em 8 de julho de 2016 
  17. Granville, Johanna, The First Domino: International Decision Making during the Hungarian Crisis of 1956, Texas A&M University Press, 2004. ISBN 1-5854-4298-4
  18. The American Heritage New Dictionary of Cultural Literacy, Third Edition. Houghton Mifflin Company, 2005.
  19. Michael A. Hartenstein (1997). Die Oder-Neisse-Linie: Geschichte der Aufrichtung und Anerkennung einer problematischen Grenze. [S.l.]: Hänsel-Hohenhausen. 69 páginas 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • de Zayas, Alfred M. A terrible Revenge. Palgrave/Macmillan, New York, 1994. ISBN 1-4039-7308-3.
  • de Zayas, Alfred M. Nemesis at Potsdam. London, 1977. ISBN 0-8032-4910-1.
  • MAGNOLI, Demetrio. História da Paz. São Paulo: Contexto, 2008. 448p. ISBN 8572443967
  • MEE, Charles L. Paz em Berlim: a conferência de Potsdam e seu mister de encerrar a Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007. ISBN 978-85-209-1978-1
  • Naimark, Norman. Fires of Hatred. Ethnic Cleansing in Twentieth. Century Europe. Cambridge, Harvard University Press, 2001.
  • Prauser, Steffen and Rees, Arfon. The Expulsion of the "German" Communities from Eastern Europe at the End of the Second World War Florence, Italy, European University Institute, 2004.