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Coluna Olhares

Brincar é coisa séria!

Através do brincar as crianças têm a oportunidade de se socializar ao interagir com seus pares, de desenvolver a criatividade, de se expressar, de simular situações do cotidiano ressignificando papéis sociais, de regular emoções, de seguir regras, de explorar espaços,  de experimentar o mundo, entre tantos outros benefícios. Assim, o brincar é essencial para o desenvolvimento integral das crianças. Brincar é coisa séria!

Na Educação Infantil o brincar está mais presente, mas quando as crianças chegam no primeiro ano na alfabetização, os alfabetizadores são questionados pelos pequenos: “Quando a gente vai brincar? Cadê o parquinho? Pode trazer brinquedo”. Essa transição se torna tão difícil para eles e de um ano para o outro tudo muda, de repente o ”direito de brincar” já não é levado em conta, e  muitas vezes nem consideramos mais que  ainda estão em pleno desenvolvimento, e a importância do brincar nesse sentido.

Um bom começo para mudar essa realidade em muitas das nossas escolas é incluir em nossa programação, em nossa rotina na alfabetização, tempo e espaço para o lúdico, em brincadeiras e jogos em sala de aula, em outros locais na unidade escolar e indicando e propondo tarefas para serem realizadas em família.

Pontos de atenção

Nas minhas turmas de alfabetização, levo em consideração alguns pontos:

  • Há momentos de brincar por brincar, onde as crianças brincam livres da maneira delas, onde acompanho só na observação (onde recolho informações importantes sobre o desenvolvimento de cada um e da turma como um todo), e somente se muito necessário faço alguma intervenção para ajudá-los mediando algum conflito.
  • Em outros momentos, proponho brincadeiras dirigidas, onde minha atuação é mais participativa e direta, até mesmo brincando com eles, com mais intervenções, mas que ainda assim é o brincar por brincar.
  • Mas há também momentos em que uso brincadeiras e jogos como situações de aprendizagem na alfabetização para explorar as práticas de linguagem.

Brincando em sala de aula

Sempre com minhas turmas de alunos, geralmente no segundo semestre, transformo a sala de aula em um grande acampamento coletivo cheio de tendas e barraquinhas feitas com lençóis, colchas, tapetes, almofadas e outros panos e objetos  enviados pelas famílias. Amarro por toda a sala barbantes, cruzando os fios, para  que então usando prendedores de roupas, sejam construídos esses espaços lúdicos, onde a regra é compartilhar alegria. No centro da sala deixo um espaço aberto, onde reúno todos para contar histórias, bater papo, cantar e comermos um lanchinho coletivo. As crianças adoram, entram na fantasia, como se estivéssemos em uma viagem, em um acampamento em um outro ambiente, um deserto, na floresta, onde a imaginação nos levar.

Planejando o brincar

Na rotina semanal, ou quinzenalmente incluo uma aula de brincadeiras, geralmente em uma sexta-feira, onde as crianças podem trazer brinquedos de casa ou jogar e brincar com brinquedos e jogos construídos anteriormente em sala de aula.  O choro,  a frustação e os conflitos estão presentes nesses momentos, e tudo bem, pois também  são tempos e espaços para que todos possam aprender a conviver melhor, exercitando a empatia, a solidariedade, o fazer juntos.

O brincar alfabetizando

Para a alfabetização, compartilho com vocês três exemplos em que exploro o lúdico, em brincadeiras e jogos, para o  contribuir no desenvolvimento  da oralidade, da escrita, da leitura e levar os alunos a refletirem sobre a língua, o sistema de escrita alfabético.

Bingo de palavras: Leitura, escrita e reflexão sobre a língua

Pelo menos a cada quinze proponho para as crianças um bingo de palavras. Escolho sempre palavras de um mesmo campo semântico, para a construção do jogo. Começo sempre explorando os nomes da turma, para depois explorar outros temas como brincadeiras, frutas, legumes e etc. O primeiro desafio é a produção pelas próprias crianças da cartela para o bingo, que é simplesmente uma folha de papel sulfite tamanho A4 dividida, em dobras, 8 partes. Na horizontal, dobra-se e abre-se a folha, em cada espaço delimitado as crianças precisam escrever o nome de colegas da turma. Peço sempre que escolham nomes de meninas e meninos. Esse momento é de efervescência na reflexão sobre a língua, pois exige que as crianças busquem materiais  escritos de referência na sala de aula, que troquem informações, que confrontem hipóteses de escrita entre seus pares, para que escrevam alfabeticamente em suas cartelas. Vou fazendo as intervenções pedagógicas, fazendo perguntas sobre essas escritas um a um, indicando referências.  Mas não para por aí, esse é só o começo. Pois é no bingo, jogando e brincando, que continuamos o processo. Cartelas prontas vou sorteando e lendo um a um os nomes escolhidos, presentes nas cartelas, retirados agora de um saquinho (como um bingo tradicional). Mas não falo o nome logo de cara, primeiro vou dando dicas, por exemplo: “começa com a letra…”; Termina com a letra…”; Rima, tem som parecido, com a palavra…”; O desafio agora é pensar e descobrir o nome pelas dicas, buscando o nome, tentando encontrar outras formas de diferenciá-los, pois muitos começam e terminam com as mesmas letras, para finalmente localizar e marcar o nome  lido por mim., se estiver presente na cartela. Em outros momentos a construção das cartelas se deu a partir do uso e apoio das letras móveis,  quando então com as escritas alfabéticas consolidadas, eram registradas nas cartelas. Dá trabalho, é muito barulho, ninguém parado no lugar, conversas de todos e com todos, mas com ótimos resultados para o processo de alfabetização.

Brincadeira falada ou cantada: oralidade

As brincadeiras faladas e cantadas são ótimas estratégias para o desenvolvimento da oralidade. podem ser realizadas em qualquer turma, pois não demandam custos ou outros obstáculos. Telefone sem fio, telefone de lata, falar palavras relacionadas dentro de uma mesmo tema (por exemplo, a professora começa falando leite, um aluno precisa falar uma palavra relacionada por exemplo, café , o outro fala uma outra relacionada com café e assim por diante), repetir na ordem as palavras faladas (escolhesse um tema, por exemplo animais, um começa falando um nome, o segundo fala o nome falado pelo primeiro e acrescenta mais um nome, o terceiro deve falar o do primeiro, o do segundo e acrescentar o seu nome de animal e assim pode diante). Essas brincadeiras fazem sucesso entre as crianças e podem ser sugeridas para as famílias, justamente pela facilidade em realizá-las. Além de se divertirem muito as crianças, desenvolvem o falar,  ao mesmo tempo que exercitam  a memória e a escuta, a capacidade de estabelecer relações dentro do tema explorado, o que beneficia a oralidade como um todo.

Construção do brinquedo ou jogo/tutoriais: leitura e escrita

Seja fazendo o brinquedo, seja escrevendo e ou lendo as regras para brincar ou jogar, as crianças podem aprender muito em situações como essas que exploram a leitura e a escrita na alfabetização. Para isso, pode-se propor a escrita coletiva com o professor escriba, em duplas produtivas, ou individualmente, com apoio e intervenções do alfabetizador. Mas sem deixar o gostoso para eles que é brincar com o brinquedo ou jogo produzido por eles. Dá para escrever o tutorial, passo a passo, ensinando outras crianças a fazer o brinquedo, ou escrever e ler as regras de como brincar ou jogar. Em minhas turmas já fizemos jogos de tabuleiro, ioiô e outros brinquedos individuais. Sempre um sucesso no brincar e no aprender!

Essas são só algumas das  minhas práticas na alfabetização onde o brincar se faz presente, mas sempre e em primeiro lugar, garanto em sala de aula, reforçando o direito de brincar por brincar.

Como anda a garantia do brincar, dos seus pequenos, em sala de aula, na escola? Faz uso do lúdico em brincadeiras e jogos, explorando as práticas de linguagem na alfabetização? Planeje então, tempo e espaço para o brincar!

Um abraço e até a próxima!