O tempo de uma região
varia não só ao longo do ano, em consequência
do movimento de translação da Terra
em torno do Sol, como ao longo do dia, devido ao
seu movimento de rotação; para além
desta variabilidade cíclica, há que
contar com variações não periódicas,
por vezes de origem muito complexa. Só dois
exemplos: a variação de intensidade
da radiação solar e a da transparência
da atmosfera terrestre, a qual pode ser provocada
por grandes erupções vulcânicas
e, numa escala menor, pela latitude, distância
ao mar, posição nos relevos, exposição
aos ventos dominantes e, até, embora com
um peso bem menor, pela interferência do homem,
como é o caso do chamado efeito de ilha urbana
provocado pelas grandes cidades. Num mundo em que
o turismo atinge foros de importante actividade
económica, o conhecimento do clima torna-se
cada vez mais necessário tanto para a obtenção
de informação o mais precisa possível
do estado médio – e valores extremos
– do tempo numa dada época do ano,
como para a escolha da localização
das estações turísticas.
As condições
gerais da circulação atmosférica
provocam uma sensível diminuição
da precipitação anual de norte para
sul do Continente, reforçada pela assimetria
orográfica; a barreira de relevos no Norte
e o afastamento do litoral provocam menor queda
de chuva no interior, notoriamente na rede hidrográfica,
muito encaixada, do Douro.
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Notar a influência
da latitude, altitude e afastamento do mar na distribuição
dos elementos climáticos.
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Em paralelo
com a distribuição da chuva encontra-se a
distribuição do número de dias com
precipitação igual ou superior a 1 mm e, em
sua oposição, os valores da insolação
– número de horas de sol descoberto acima do
horizonte – que atingem, no Algarve, 3 100 horas,
dos maiores valores da Europa.
A temperatura média do ar evolui em sentido contrário
ao das chuvas, ou seja, aumentando de norte para sul onde
as amplitudes térmicas são maiores; evolução
idêntica se nota entre as temperaturas ao longo do
litoral – sempre mais amenas e as do interior com
muito maiores amplitudes térmicas. As áreas
montanhosas do Norte mantêm-se como ilhas de frescura
ao longo dos meses de Verão e no Inverno atingem
as temperaturas mais baixas sendo relativamente alto o risco
de geada, praticamente desconhecido a sul do Tejo e em todo
o litoral.
A humidade relativa tem uma distribuição regional
pouco marcada de Inverno e uma diminuição
acentuada, paralela ao litoral, nos meses de Verão.
O vento, ou movimentos horizontais de massas de ar, é
outro elemento de clima que interfere muito directamente
com o sentimento de conforto sentido pelo Homem; e nele,
também, se encontra uma diferenciação
entre o interior do País, onde as direcções
e intensidades são variáveis, em correlação
importante com o relevo e seus alinhamentos; e o litoral,
onde são bem marcadas as direcções
norte e noroeste.
As frentes separam massas de ar de densidades diferentes;
pela sua posição, em especial o Continente
e o arquipélago dos Açores estão mais
sujeitos à passagem de frentes no Inverno do que
no Verão; ainda devido à posição,
esporadicamente, o Continente e a Ilha da Madeira podem
ser atingidos por poeiras oriundas do Sara.
Da relação entre os vários elementos
de clima obtêm-se os índices de conforto bioclimático,
através dos quais, uma vez mais se nota, de uma maneira
geral, o contraste entre o Norte e o Sul. Outra medição
menos frequente, mas essencial pela repercussão em
duas actividades importantes – a pesca e o turismo
– é a da temperatura da água do mar
à superfície, junto à costa que, tal
como em terra, aumenta de norte para sul e cuja média
varia entre 12,3ºC, no mês de Janeiro, em Leixões,
e 21,4ºC, nos meses mais quentes (Julho e Agosto),
no Cabo de Santa Maria; mas, tal como noutros indicadores,
notam-se algumas diferenças ao longo dos anos; por
exemplo, em Leixões, entre 1956 e 1999 registou-se
uma significativa “tendência crescente de cerca
de 0,04ºC/ano”.
Para além desta distribuição normal
dos elementos climáticos básicos, verificou-se,
pelo estudo de séries longas de valores registados
nas estações meteorológicas mais significativas
do Continente, “que o aumento [actual] da temperatura
média do ar ocorre em todas as estações
[do ano], sendo maior no Outono/Inverno do que na Primavera/Verão...
e que a [tendência] da taxa de aumento da temperatura
média anual do ar, 0,0074ºC/ano, é semelhante
à da média global calculada para todo o planeta”.
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