Neste estudo, fazemos uma reflexão inicial sobre os (des)encontros do uso e função do maternalês nos estudos psicolinguísticos e musicais por meio de uma análise qualitativa de dados. Nos estudos psicolinguísticos (FERNALD e KUHL 1987,...
moreNeste estudo, fazemos uma reflexão inicial sobre os (des)encontros do uso e função do maternalês nos estudos psicolinguísticos e musicais por meio de uma análise qualitativa de dados. Nos estudos psicolinguísticos (FERNALD e KUHL 1987, CAVALCANTE 2007), o maternalês é explicado como um input diferenciado, por meio do qual o adulto, ao entrar em contato com a criança, faz modificações na sua fala padrão com o intuito de aproximar-se da fala da criança. As modificações linguísticas na fala do adulto são caracterizadas por frequência fundamental mais alta, preferências por certos contornos, fala mais lenta com duração prolongada de certas palavras, uso de diminutivos, entre outros. Todas essas modulações auxiliariam e influenciariam o desenvolvimento linguístico da criança. Por outro lado, estudos sobre conhecimento musical intuitivo das crianças (PARIZZI 2006, GRATIER 2011) afirmam que as formas de se “criar sentido” antes da produção linguística, as quais ocorrem nas interações mãe-bebê, são próximas dos modelos de criação do sentido musical (GRATIER 2011, p. 82). Esses estudos não propõem uma análise puramente musical, pois defendem uma continuidade entre o verbal e o musical, oriunda da natureza da voz humana que é tanto um instrumento de fala como também de canto. Analisamos dados longitudinais de uma criança M., do sexo masculino, adquirindo o português brasileiro (PB) entre 8 meses e 2 anos. Os dados, distribuídos em 16 sessões naturalísticas da criança com a sua família e cuidadores, foram transcritos com uso de CHAT (MAcWHINNEY 1991, 2000) e IPA. Após análise dos dados, encontramos desafios para o sistema de transcrição CHAT, segundo o qual só é caracterizado canto (@s) o que se aproxima do conceito de canto do adulto, sendo que etnomusicólogos consideram importante tratar a música produzida pelas crianças pequenas como um gênero musical distinto por ter características próprias e distantes do que um adulto ocidental considera música (PARIZZI 2006, p. 40). Dessa maneira, com base dos critérios puramente psicolinguísticos, foram encontradas poucas produções cantadas na interação mãe-bebê. No entanto, se forem levados em consideração critérios musicais, notamos que, no estágio de transição do balbucio para as primeiras palavras, é pouco provável conseguirmos diferenciar o que seria puramente linguístico do que seria resultado da intuição musical da espécie.