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Carlos Heitor Cony

Os comedores de batata

RIO DE JANEIRO - Sempre foi complicada a hist�ria da humanidade. Momentos bons, em minoria, momentos p�ssimos, na maioria -acredito que nunca se chegar� a um acordo sobre a sua import�ncia ou a sua utilidade.
Neste in�cio do s�culo 21, mais uma vez ela se marca por uma redund�ncia de problemas que v�o da crise na Europa do euro, dos movimentos em pa�ses �rabes -que est�o sendo chamados de Primavera �rabe-, de guerras e conflitos localizados a um n�o saber o que fazer generalizado e med�ocre.
Os otimistas sempre encontrar�o motivos para citar os "punti luminosi" que foram criados em tantos s�culos de hist�ria. A filosofia de Plat�o, a l�gica de Arist�teles, a obra de Shakespeare, a "Nona Sinfonia", a genialidade de Leonardo da Vinci, a conquista espacial e os telefones celulares. Tudo bem.
Os pessimistas (que, por defini��o, est�o bem informados) teriam muito mais a citar. A quest�o � obter uma imagem da colossal geleia que resulta do todo, metendo o bem e o mal num gigantesco liquidificador do tamanho da Terra, que n�o deixa de ser um misturador de coisas, girando em torno do Sol e de si mesma.
Se fosse escolher uma cena que expressasse tudo isso, eu pensaria numa obra de Van Gogh, de 1885, "Os comedores de batata". � um quadro meio sinistro, mas vital: todos est�o comendo o que plantaram, fim de um dia e in�cio de uma noite, um lampi�o combalido ilumina dramaticamente o rosto de camponeses exaustos. N�o � aquela l�mpada enorme e acesa que Picasso colocou em "Guernica", mostrando o qu�? A devasta��o de um bombardeio -corpos e animais decepados, um momento funesto da humanidade.
O lampi�o de Van Gogh � neutro, n�o tem opini�o, mostra o que deve ser mostrado, todos n�s comendo batatas, inclusive as que n�o merecemos.

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