'Alerta para o mundo': como dengue no Brasil virou preocupação internacional

Reprodução do site do NYT, cujo título é: Brazil Has a Dengue Emergency, Portending a Health Crisis for the Americas

Crédito, Reprodução/NYT

Legenda da foto, New York Times diz que 'Brasil tem uma emergência de dengue, um prenúncio de uma crise de saúde para as Américas'

Logo na primeira linha, uma reportagem do site americano Vox ensina como pronunciar uma palavra que pode ser nova para muitos de seus leitores: "pronuncia-se DEN-gay", diz o texto, originalmente em inglês.

Velha conhecida dos brasileiros, a dengue virou assunto na imprensa americana e europeia durante a crise sem precedentes que atinge o Brasil.

O número de casos de dengue em 2024 no país é recorde na série histórica oficial — e o total registrado (casos prováveis e confirmados) se aproxima dos 2 milhões em meados de março, segundo o Ministério da Saúde.

As reportagens em veículos estrangeiros discutem, principalmente, o que o avanço recorde de casos dengue no Brasil e em outros lugares significa para a saúde global nos próximos anos.

O New York Times fala em "prenúncio de uma crise de saúde para as Américas" e o Washington Post, que chama a crise de dengue no Brasil de "impressionante", diz que é "um alerta para o mundo".

A seguir, leia os principais pontos abordados nas reportagens publicadas no exterior.

Ao destacar a "emergência de dengue no Brasil", reportagem do New York Times publicada em fevereiro diz que a crise é prenúncio de "uma crise de saúde para as Américas".

O subtítulo da matéria menciona o recorde de casos no verão do Hemisfério Sul e acrescenta que "é provável que o aumento se desloque para norte".

Assinada por Stephanie Nolen, que cobre saúde global e foi correspondente no Rio de Janeiro, a matéria aponta que, segundo especialistas, o El Niño e as mudanças climáticas amplificaram o problema este ano.

Reprodução de reportagem do Washington Post cujo título em inglês é: Brazil’s staggering dengue fever crisis is a warning to the world

Crédito, Reprodução/WP

Legenda da foto, O jornal americano The Washington Post diz que a 'impressionante crise de dengue no Brasil é um alerta para o mundo'

'Alerta para o mundo'

Reportagem do Washington Post publicada em março diz que "o aprofundamento da crise de saúde pública, segundo os epidemiologistas, serve de alerta para o mundo".

Assinada pelos correspondentes Marina Dias e Terrence McCoy, a reportagem relata a busca de moradores nos arredores de Brasília por um leito hospitalar.

A reportagem diz que "a luta contra a doença entrou numa nova fase imprevisível e perigosa" e destaca que a dengue está, ao mesmo tempo, chegando a lugares onde nunca esteve e, onde está presente há muito tempo, o número de casos sobe a níveis inéditos.

Atribuindo a opinião a epidemiologistas, a reportagem diz que a atual crise "provavelmente é apenas o começo".

"Nos próximos anos, com as mudanças climáticas impulsionando o alcance do mosquito Aedes aegypti, a doença poderá se tornar cada vez mais prevalente, até mesmo endêmica, em grande parte do sul da Europa e no sul dos Estados Unidos."

'Amostra do futuro'?

Reprodução do site Vox, cuja matéria principal é: 'The tropical disease that's suddenly everywhere'

Crédito, Reprodução/Vox

Legenda da foto, Manchete do site Vox em 14 de março: 'A doença tropical que de repente está em todo lugar'
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A reportagem do site Vox sobre o tema — principal destaque do portal em 14 de março — diz que a velocidade "sem precedentes" do avanço da dengue no mundo é um "exemplo preocupante de como as mudanças climáticas e as tendências demográficas do século 21 podem rapidamente transformar um problema de saúde pública numa assustadora crise de saúde global".

Escrita por Dylan Scott, que cobre saúde global, a reportagem menciona a ocorrência da dengue em outros países, como Bangladesh, e menciona que o Brasil viu no início de 2024 "a propagação mais rápida do vírus já registrada no país".

Também menciona a campanha brasileira de vacinação, mas pondera que não há "vacinas suficientes disponíveis para erradicar o surto no Brasil tão cedo".

O texto também diz que "a competição pelas vacinas poderá aumentar nos próximos anos" e cita que "mais vacinas candidatas estão em desenvolvimento, incluindo uma versão de dose única potencialmente revolucionária que está sendo produzida pelo brasileiro Instituto Butantan".

O texto aponta que a dengue tem se espalhado inclusive por regiões onde era rara ou nunca havia sido registrada — inclusive nos Estados Unidos.

"No ano passado, a Califórnia descobriu sua primeira transmissão local de dengue. Nos últimos anos, foram notificados casos pela primeira vez em França, Croácia, partes subtropicais de África e Afeganistão."

A reportagem destaca, ainda, que as mudanças climáticas e a rápida urbanização em regiões em desenvolvimento são fatores que, segundo os especialistas, colaboram para o avanço da dengue.

"Essas duas tendências devem se intensificar nos próximos anos - o que significa que os atuais surtos de dengue, que bateram recordes, podem ser apenas uma amostra do futuro."

As temperaturas mais altas e as mudanças nos padrões climáticos facilitam a proliferação dos mosquitos transmissores da dengue, diz a reportagem, após referência à Organização Mundial da Saúde (OMS).

Aedes aegypti, o mosquito da dengue

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Vírus da dengue é transmitido pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti

O New York Times também destacou os resultados da vacina do Instituto Butantan, dizendo que naquele momento se tratada da "única boa notícia sobre a dengue no Brasil".

E, ao falar dos casos graves de dengue, fez uma menção às dificuldades enfrentadas durante a pandemia de coronavírus.

"Centros médicos no Brasil estão criando leitos extras para pessoas com dengue grave, na esperança de evitar o tipo de sobrecarga dos sistemas de saúde que ocorreu durante a pandemia de covid-19 e de evitar mortes por dengue."

No alemão Der Spiegel, ganhou destaque o uso de uma bactéria, chamada Wolbachia, inserida em Aedes aegypti criados em laboratório, que são soltos na natureza para que se reproduzam e passem para frente a bactéria - que bloqueia a transmissão de doenças.